Os jovens atores do grupo Obás de Oyó |
Os espetáculos "Onde Está o Seu Racismo"?, do grupo Oloruns da Arte, do bairro de Sussuarana, e "Assim dizem os mais velhos"?, do grupo Obás de Oyó, da comunidade de Paripe, ambos de Salvador, deram continuidade as apresentações do teatro comunitário na tarde deste sábado (14), dentro da programação do Festival A Cidade CRIA Cenários de Cidadania.
Até o dia 18 de agosto de 2010, todas as peças da tarde tem entrada gratuita, a partir das 15h.
Com uma pitada de música e poesia, o Oloruns levou o público para uma viagem ao mundo onde os jovens encaram de frente o preconceito racial, a difícil fase da adolescência, o diálogo com os pais e a violência que é tão explícita nas comunidades de Salvador, a exemplo de Sussuarana. Aos poucos, o grupo tenta mudar esta dura realidade pela mobilização dos jovens através da arte.
Para Maria Eugênia Milet, supervisora geral do CRIA, "o grupo Oloruns uniu vários pessoas diferentes para pensar junto a comunidade, como policiais e representantes de diferentes religiões. O grupo está conquistando este espaço há muito tempo, com persistência e organização, e com isso, está fortalecendo a união entre as pessoas da comunidade".
Durante o debate, após a apresentação das peças, jovens da tribo Pataxó, de Coroa Vermelha, quiseram saber mais sobre a experiência do teatro comunitário, pois demonstraram interesse em criar um grupo de teatro em sua tribo."Queremos expressar nossa cultura Pataxó, pois o preconceito que existe vem da falta de conhecimento dos outros. A gente está aqui para disseminar o que temos de melhor, através das nossas danças, rituais e artesanato", disse Ubiraí pataxó, 23. Ele é monitor do projeto Território de Proteção, criado pelo ITJ - Instituto Tribo Jovem, que abrange 5 aldeias na Bahia.
O diretor de "Assim dizem os mais velhos", Ronald Assis, compartilhou a experiência do grupo. "A gente está aqui por amor, pelo sentido que isto nos traz. Ao mesmo tempo, estamos ensinando e aprendendo, pensando a familia e a comunidade para solucionarmos os nossos problemas atraves da arte. O que move a gente é a vontade de se juntar e ouvir o outro".
O debate contou também com a presença da arte-educadora e diretora do GRUCON - Grupo de União e Consciência Negra, Ana Rosa, convidada para o evento. Ela ressaltou a importância do trabalho desenvolvido pelo teatro comunitário com o apoio do CRIA, e lembrou aos Pataxós a importância dos indígenas para o início do processo de afirmação do povo negro na Bahia. "O GRUCON tem como objetivo priorizar a história dos negros a partir do índio".
Segundo Maria Eugênia Milet, é em prol desta união e deste tipo de apoio que foi pensado o festival A Cidade CRIA Cenários de Cidadania. "As pessoas se juntam porque tem vontade e começam a inventar um jeito de falar o que pensam e o que querem contando uma história. As oportunidades de apoio aparecem quando o grupo se junta primeiro".