Montagem do resultado das oficinas do I Festival A Cidade CRIA. |
O evento, na verdade, é parte de um longo processo que já vem ocorrendo há 18 anos no CRIA e dentro de cada coração que se sentiu tocado pelo que foi proporcionado pelo Festival.
As oficinas foram momentos muito especiais. já que são uma etapa importante do intercâmbio entre os jovens participantes dos grupos artísticos do CRIA, jovens da aldeia Pataxó de Coroa Vermelha e jovens do Quilombo de Tijuaçu e de Missa do Sahy, ambos de Senhor do Bonfim.
“Superou minhas expectativas”, diz Rose Silva, que ministrou ao lado de Alessandro Souza a oficina de intercâmbio entre indígenas, quilombolas e jovens do CRIA. “O grupo estava muito a fim de fazer e acontecer. Pra mim foi muito forte porque foi dentro do nosso festival. Agora a história é outra porque estamos dentro da nossa casa”, completa Rose.
No espetáculo, os índios Pataxó de Coroa Vermelha e os quilombolas de Tijuaçu presentearam o público com toda a riqueza das suas origens, cultura e história. Participaram ainda do espetáculo jovens de comunidades de Salvador, como Cosme de Farias, Arenoso, Fazenda Coutos, Pilar e Barros Reis.
Os quilombolas trouxeram a história das três negras que deram origem ao quilombo de Tijuaçu e a tradição do Samba de Lata.
Os Pataxó vieram com a riqueza da sua indumentária, da sua música, do seu artesanato, mas também a história da invasão portuguesa e a triste lembrança da morte do índio Galdino, que morreu queimado em Brasília.
A carinhosa presença da Mestra da Cultural Popular, Maria do Carmo, de Lafaiete Coutinho (BA), e sua “panela boa demais”. Sem contar a arte do Teatro de Bonecos, com o mestre bonequeiro Rubenval Meneses e Eliete Teles, da Associação Cultural Tupã.
Alegria, tristeza, raiva e medo. O momento do clown dentro do espetáculo foi uma troca de emoções a cada encontro no palco. Desta vez, o chamado “riso fácil” deu lugar à risada natural, que segundo a atriz Teresa Bruno, ministrante da oficina, trouxe o público para si mesmo. “O clown não é um personagem interpretado. Significa desenvolver e revelar a característica principal, o lado ridículo de cada pessoa. A ideia é encontrar uma gestualidade cômica do corpo que a gente traz no dia a dia, entende? Reconhecer a estupidez das pessoas”.
Para Carla Lopes, arte-educadora do CRIA, o resultado das oficinas vai ser a grande lembrança do festival. “Isto não é um espetáculo, e sim uma brincadeira, porque o teatro que a gente faz a gente vai descobrindo a cada dia, reinventando e criando com todo mundo”, diz.
A colagem cênica teve um final apoteótico: uma grande homenagem ao ator e dramaturgo Ilo Krugli. “Isso tudo lembrou o espetáculo Lenços e Ventos, que originou o grupo Ventoforte.
No espetáculo, o personagem principal usa dois corações: por baixo um de celofane transparente, e por cima, um de metal. Na vida da gente é preciso saber o momento de usar cada um deles”, disse Ilo, visivelmente emocionado.
Para fechar de vez, uma grande roda de Samba de Lata, misturada com roda de verso e capoeira. Para Maria Eugênia Milet, o festival não acaba aqui. “A festa continua”, disse.
Em setembro, o CRIA faz sua temporada da Mostra A Cidade CRIA Cenários de Cidadania, com os espetáculos dos grupos Iyá de Erê, Pessoa Comum, Mais de Mil e CRIAPoesia. As apresentações serão às quartas e quintas, às 15h, no Cine Teatro Solar Boa Vista, no Engelho Velho de Brotas.